Considerado um hobby para muitas pessoas, o cinema, muitas vezes, encanta por belas histórias que marcam vidas. E a proposta Cinema para Idosos possui roteiro que merece prêmio. Dirigido pelos projetos Arte Pela Luz dos Olhos Teus e Cine-UFPel, este script tem como grandes estrelas cerca de 50 idosos que vivem em casas geriátricas e clínicas de repouso e foram assistir, após muitos anos, a um filme em sala de cinema. Oportunidade de levar entretenimento para quem dificilmente sai do local onde vive. E não se trata de ficção, e sim, de um fato real.

A parceria entre Arte Pela Luz dos Olhos Teus e Cine-UFPel já existe desde o ano passado, quando alunos integrantes do curso de Cinema da UFPel levavam aparelhos retroprojetores aos asilos para exibições. Entretanto, isso não tirava o público para um passeio e, ainda, demandava trabalho maior, pois os voluntários iam de casa em casa. Com a inauguração do Cine-UFPel, uma sala de cinema para 86 lugares, localizado na rua Lobo da Costa, 477, o projeto começou a ser elaborado para relembrar experiências que já não faziam parte da rotina dos idosos há anos.

Na primeira sessão, que aconteceu na última terça-feira, foram exibidos os trailers das obras Lisbela e o prisioneiro, Up - Altas aventuras e Jeca Tatu. Através de votação, o Jeca Tatu foi o escolhido pelos idosos. A coordenadora do Cine-UFPel, Cintia Langie, contou que os votos simbolizam o direito de escolha. “Demos a oportunidade de escolherem qual filme gostariam de assistir”. Após a exibição, sanduíches, doces, café e chá foram oferecidos para um momento de confraternização. Apesar de algumas dificuldades, como a falta de um técnico para comandar os equipamentos, o resultado foi satisfatório.

Xana Gallo, que coordena o Arte pela Luz dos Olhos Teus, conta que muitos nem saíam de casa, pois foram abandonados pelas famílias. De acordo com ela, muitos declaravam que não iriam, mas na última hora decidiram assistir ao filme. Nesta primeira edição, idosos de seis das 11 casas diferentes atendidas pelo projeto participaram. Um deles foi Shirley Malta, 72, que, segundo Xana, foi a primeira a demonstrar interesse em ir à sessão. Shirley sentou-se na primeira fileira de cadeiras e revelou que já havia perdido a conta de quantos anos não ia ao cinema. Na época que via filmes frequentemente, era fã do Tarzan. “A experiência é maravilhosa, quero vir sempre. É uma terapia para nós, que vivemos encerradas em casa”, declarou. Para completar sua felicidade, o gênero do filme exibido foi o seu favorito. “Adoro comédia. Amei o filme, tinha cachorros, cavalos, galos e galinhas. Dei muita risada”, falou.

Busca por “caroneiros”
Com objetivo de vincular a comunidade com os asilos, o modelo de transporte é feito através de caronas. Voluntários, como a estudante de Veterinária Francine Belem, 26, desempenham um papel que é simples mas fundamental para o lazer dos idosos. Os caroneiros buscam o grupo nas casas geriátricas, levam ao Cine-UFPel e depois reconduzem ao local de repouso. Francine, que transportou Shirley, contou que a sensação de poder ajudar é sensacional. “Não tem nem o que falar. No trajeto eles contaram algumas histórias quando passavam por locais que marcaram as vidas deles. Falaram até de assuntos atuais, como o processo de impeachment”, disse. Segundo ela, quando chegou na clínica para pegá-los, a ansiedade tomava conta do ambiente. “Eles contaram que acordaram bem cedo, tipo sete da manhã. Só para se arrumarem para vir ao cinema.”

Antes do dia da sessão ocorre uma visita dos caroneiros aos idosos, para se conhecerem e, também, buscarem uma relação de confiança. Segundo os coordenadores do projeto, ainda existe a necessidade de pessoas voluntárias para prestarem este tipo de apoio. Interessados podem procurar o grupo no Facebook “Carona Solidária - Cinema para Idosos”.